terça-feira, 17 de dezembro de 2013

MISTER FRANKIE

Com o senhor Frankenstein a história foi bem diferente. O mostrengo branco, gordo é surdo e albino. Olhou-me com desconfiança, porém logo veio buscar carinho. Esqueci-me de sua surdez e dei uma bronca quando ele tentou se arranchar detrás de minha cabeça. Estava recostado do sofá e queria tranquilidade. Saiu como chegou, deu um salto para a mesa, depois viu qualquer coisa no chão e foi à caça. Minutos depois estava deitado sobre a televisão. O senhor Frankie adora se esconder colocando a gente em polvorosa à sua procura. Ele se acha dono de todo o espaço. Basta fazer a menção de abrir a porta do banheiro e lá vai ele buscar não sei o quê.
Nunca vi um bicho tão esfomeado. Pra ele a vida se resume em comer e dormir e fazer artes. Quando não está fazendo suas traquinices se põe a lamber as patas, numa lavação demorada. O que mais gostava era de mexer na vasilha onde colocávamos sua ração. Bastava sentir o cheiro e saía em disparada. Guloso, comia de sua tigela e não dava sossego pra miss Julie que via sua saborosa comida ser inevitavelmente devorada pelo imenso senhor Frankie.
Ao final do primeiro dia ele já era velho conhecido. Não perdia a oportunidade de se enroscar em minhas pernas estendidas. Ao primeiro sinal feito com as mãos ele vinha faceiro, querendo carinho. Bem diferente da arredia miss Julie.
No princípio achei meio estranho. Frankie não suporta que a gente o encare. Era só ameaçar olhar em seus olhos que ele fugia. A Laura tentou me explicar as razões pelas quais ele não gosta do enfrentamento, fiquei meio perdido. Lembrei-me dos autistas que costumam olhar nos olhos das pessoas.
Outra coisa que ele odeia, quando se trata de pessoas estranhas é ser abraçado. Eu o apertava entre os braços e quando menos esperava escapulia e ficava de longe me olhando com o canto dos olhos, como se pretendesse dizer: — quando será que esse varapau irá embora? Cruzes até quando terei que suportá-lo?
Com o correr o passar do tempo nós nos acostumamos um ao outro e ele não perdia a oportunidade de se enfiar no meio de minhas pernas ou de procurar abrigo no encosto do sofá. Irrequieto como só ele sabe ser não parava um instante. Bastava achar uma caixa e ele entrava e dormia tranquilamente. Por ser surdo ficava alheio ao mundo. Só despertava quando maldosamente eu passava uma das mãos em seu dorso. Soltava um miado e procurava o lugar mais alto da sala ou sobre o guarda-roupas da Laura e lá ficava, talvez pensando: — aqui você não consegue me pegar!

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